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Para falar com franqueza, do autor de Intimidades "Estados d'Alma", do Nelson T. Silva, não tenho dados biográficos que me permitam realçar o seu verdadeiro estatuto de conterrâneo meu, e como eu defensor de corpo e alma do nosso torrão que tem no Monte Farinha, nas Fisgas e no Tâmega a chancela que no panorama paisagístico de Portugal distingue as terras de Basto ou de Santa Senhorinha. Mas mediante a apreciação atenta que fiz desta colectânea de poemas seus, em 116 páginas derramados, deu-me para formar do autor uma imagem que suponho aproximada do seu perfil: social, espiritual e artístico; e que vou tentar em síntese retratar aqui, e assim prestar homenagem a um poeta meu conterrâneo que desde já alcunho de "António Nobre", de Basto", por ver na sua poesia uma semelhança nostálgica com a do portuense autor do SÓ.
Para me ajudar nesta tarefa conto em primeiro lugar com a colaboração de outro já consagrado poeta transmontano, o Nelson Vilela, que no seu prefácio à obra deixa comentado: " Parto do título: INTIMIDADES - do latim - Intimus - superlativo absoluto sintético de interno - interior - íntimo, adjectivo aqui substantivado. Intimo o que está dentro, no mais fundo do ser - a raiz de tudo, de todos os sentimentos e, portanto, à primeira vista, aí devia tudo ficar, mas não, este recinto reservado, mantido em segredo, salta, por necessidade de partilha, cá para fora, para o outro que se torna detentor do segredo; daí falar-se de pessoa intima, merecedora dos seus sentimentos, intimidades - intimidades que levam o leitor ao conhecimento dos estados de alma do poeta : anseios, alegrias, tristezas, crenças, natureza e Deus em toda a dimensão do seu acto criador. É nesta amplitude de situações que emerge e se dimensiona a temática poética de Nelson Teixeira da Silva".
Também do "Ginho, poeta e prosador mondinense de craveira, com diversos títulos publicados, fui recolher, na página 9 de "Estados d'Alma", os dados de que me sirvo e divulgo:" O Nelson gosta de escrever lá no alto, lá em cima - em divina contemplação. Na Bouça, quando a lua cheia parece querer engolir o Toumilo Celta, ou aos pés daquela mulher de pedra que chora com Seu Filho no colo. Aos pés de Nossa Senhora da Piedade, por quem o Nelson tem uma grande devoção e com quem partilha, diariamente, uma grande cumplicidade. E então as suas estrofes cheiram a tojo e a rosmaninho e são tão frescas que conseguem saciar a gente como se estivéssemos a beber na Fonte do Eirô dos romeiros, ou na enfeitiçada Fonte do Barrio, que acorrentava a Mondim quem beijasse a sua boca.
O Nelson é um marido apaixonado, um pai babado e um escritor inspirado. Fez, comigo, animação e fez cultura, fez comigo, musica e fez teatro e canta, ao meu lado, no Coro de São Cristóvão de Mondim, já lá vão trinta e tal anos. Conto com ele, ao meu lado, para interpretar as mais difíceis partituras da minha vida. Agora, conto com ele como poeta. Como vocês podem contar".
Para formatar a "foto descritiva", a dedicatória do Nelson é um mimo de ternura que em nossos dias constitui um modelo de vida matrimonial a ser apontado, ora reparem: " Á minha mulher Filomena, principio de todas as coisas, causa e origem destas e de outras mais sublimes criações - os meus filhos Teté e Nelsinho. É deles e para eles, também, este livro pequenino. Não fui capaz de mais. Mais mereciam". - As obras não valem pelo seu tamanho, mas pelo conteúdo e o amor com que o artista as apronta. Ora pelo que acabei de ler, o autor de Intimidades "Estados d'Alma" é desses, faz parte dessa plêiade de eleitos que na antiga Grécia tinham o deus Apolo por protector. Os meus parabéns.
Li a eito, para assim chegar seguro do Sofrimento....ao Outeiro. Detive-me com religiosa ternura a ler: Para ti, Mensagem, Visão do Sul, Procissão, O Fado, Cartão de visita, Nossa Senhora da Lapa e todo o restante desfilar de intimidades que discretamente o Nelson Teixeira da Silva com arte e harmonia em verso desenhou. À pessoa amiga que pelo correio me fez chegar à mão esta valiosa jóia literária os meus sinceros agradecimentos, ao artista que tão bem a lapidou, só espero e faço votos lhe sirva de lenitivo e o desperte para outras futuras produções. De modo a que mais tarde não venha também depois dizer aos mondinenses que "Mais mereciam"... quando sabemos ele querer dizer: merecem. E muito mais aqueles que na diáspora, como eu.
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